Casa Pátio
Arquitetura | Interiores
Status | Construído
Local | Jaguariúna/SP
Ano | 2017
Área do terreno | 1.194,01 m²
Área do projeto | 333 m²
Arquitetura e Interiores | 24 7 Arquitetura
Arquitetos | Gustavo Tenca, Giuliano Pelaio, Inácio Cardona
Projeto de Arquitetura | Nicolas Meireles, Aline Borba, Victor Buzim, Gabriel Von Zuben
Estrutura | WGA engenharia
Elétrica e Hidráulica | Solar engenharia
Iluminação | Vertz Iluminação
Paisagismo | Leticia Fortuna Paisagismo
Fotos | Adriano Pacelli
Os clientes já haviam definido: A casa teria um grande pátio central e se desenvolveria ao seu redor. Um amplo lote de aproximadamente 1.200m2 foi adquirido e, para nossa sorte, estávamos incumbidos de materializar esse projeto. Admiradores do concreto aparente, de paisagismo e da natureza de modo geral, logo percebemos que teríamos o apoio para todas as ideias que viessem de encontro ao aumento da sustentabilidade do projeto. Estimulamos que a casa fosse distribuída de forma térrea, já que não houvera motivo para se cogitar algo diferente disso em função do amplo lote e do programa de necessidades ser relativamente compacto. Não poderíamos esquecer das extensas vistas do condomínio e por isso a ideia de se fazer uma grande cobertura ajardinada na laje, com acesso externo independente da casa, para apreciação das vistas do entorno.
Já é sabido que a correta implantação da casa no terreno em relação ao sol representa boa parte do caminho andado para o conforto térmico do interior do projeto, por isso o pátio, protagonista da implantação deste projeto, se abre a sudeste, tendo os quartos orientados a NE e o próprio volume da sala, também a Sudeste, ajuda a projetar sombra em parte do pátio a medida em que o sol se põe. A implantação segue uma distribuição em U, setorizando usos distintos para cada volume: Serviço, social e íntimo. Este último encontra-se 1m acima do nível do restante da casa e confere ainda mais privacidade aos quartos. A casa de 330m2, possui programa enxuto apesar das 4 suítes. Sem piscina e tampouco área de lazer definida por um espaço coberto, um pedido diferente chamava atenção: Uma churrasqueira móvel, bem ao estilo americano, deveria estar no pátio descoberto, juntamente a um mobiliário externo que pudesse acomodar a família de maneira confortável, passando o pátio descoberto a ser de fato a sala de estar da casa, porém mais legal ainda, já que essa sala seria ao livre.
A volumetria horizontal da casa integra extensos beirais que circundam as fachadas e são essenciais na proteção contra a radiação solar direta, proporcionando áreas sombreadas e consequentemente aumento do conforto térmico no interior da edificação. O concreto aparente ripado é soberano na morada. Feito de modo experimental pela equipe de obra, a cliente aprovou a qualidade de um protótipo de parede executado no início da obra, sendo adotado posteriormente como revestimento de toda a casa: paredes, forro, piso, todos aparentes e definitivos. Uma vez desenformado, só restou o tratamento do material por uma equipe especializada. Não exige manutenção, pintura, forro de gesso, chapisco, reboque, nada. Está pronto logo após o desenforme. A casa ainda possui uma cisterna de 10.000 L para regar os jardins e a cobertura verde, bem como tem capacidade de geração de 5.372 kw/ano, o equivalente a aproximadamente 420 Kw/mês.
Bioclimatismo
O objetivo de um projeto bioclimático é fazer com que o conjunto de decisões tomadas na fase de projeto ajude a atingir a zona de conforto térmico (entre 19 e 23 graus) no interior da edificação, sem o uso de dispositivos mecânicos e/ou artificiais.
Acreditamos que a maior parte da sustentabilidade em um edifício está relacionado ao correto projeto arquitetônico, visando responder a uma séria de questões como as encaradas neste projeto:
A) Implantação da casa possui 3 orientações predominantes: Área de serviço na porção Sudoeste, os quartos se situam na fachada Nordeste e a sala na fachada Sudeste, minimizando os ganhos de calor no verão.
B) Orientação dos vidros: quando mantidos fechados podem acumular calor de forma passiva e quando abertos, permitir a ventilação cruzada de modo a expulsar o calor. Os vidros dos quartos possuem painéis ripados de madeira que controlam o nível de exposição solar desejado.
C) Sistemas de sombreamento: A casa possui extensos beiras que protegem os vidros da radiação solar direta no verão, além de proporcionarem que as sombras contribuam para que os ventos adentrem o recinto com temperatura mais amenas.
D) Otimização dos recursos naturais de maneira a atingir níveis de iluminação e ventilação naturais relevantes: to- dos os ambientes de permanência possuem ventilação cruzada e iluminação natural durante o dia, minimizando a necessidade do consumo energético para resfriamento e iluminação.
E) As envoltórias são constituídas de paredes de concreto aparente e de alvenaria revestidas de pedra natural, o que garante um retardo térmico maior. Já, nos ambientes sociais, o uso do vidro nas portas de correr é mais suscetível aos ganhos de calor, porém elas funcionam com ventilação cruzada em toda sua extensão, devendo serem mantidas abertas no verão e fechadas durante o inverno para aqueci- mento passivo da temperatura interna.
F) O pátio funcionará como um grande regulador da temperatura da casa, já que sombreado, permitirá a entrada de ar fresco ao interior dos ambientes. Árvores que percam as folhas no inverno, serão benéficas para permitir passagem do calor quando a necessidade for de aquecimento natural.
G) Cobertura isolante: um extenso telhado verde funciona como o aumento de massa térmica no plano horizontal da cobertura, garantindo que a temperatura interna seja mantida mais estável no inverno e ao mesmo tempo proporcionando que no verão a entrada de calor pela cobertura seja retardada, garantindo o controle da temperatura interna sem aumento de desconforto por calor.
H) Resfriamento noturno: Ao cair da temperatura no período noturno, recomenda-se a abertura dos vidros no verão para resfriamento das envoltórias e trocas de calor.
A casa possui iluminação e ventilações naturais abundantes e estimulam o convívio entre os moradores. O correto uso e operação dos sistemas por parte do usuário deve andar junto, caso contrário não adiantará muita coisa. Tais estratégias representam as ações mais baratas e de maior impacto no aumento do nível de sustentabilidade da casa.
Materiais e Tecnologia
Em um segundo momento após o enfrentamento das decisões projetuais, discutimos sobre as tecnologias que poderiam ser incorporadas no projeto. Estas envolvem investimentos com payback a médio e longo prazo e podem ser incorporadas à edificação de maneira a aumentar o nível de sustentabilidade do empreendimento. O projeto da casa pátio faz uso de poucos ele- mentos distintos, porém na maior parte são materiais naturais como madeira e pedra.
Tecnologias
Cisterna: O reaproveitamento da água da chuva é feito através de uma cisterna que recolhe a água da chuva e retorna para o jardim através do sistema de irrigação automatizada.
Telhado verde: grande parte dos planos de lajes de cobertura recebem telhado verde, garantindo maior conforto térmico ao interior da casa. São capazes de acumular água para sua própria manutenção e diminuem a amplitude térmica no interior da residência, garantindo maior estabilidade da temperatura alcançada através das varíaveis adotadas no projeto arquitetônico.
Sistema solar fotovoltaico integrado a concessionária de energia: através dos painéis fotovoltaicos, a casa será responsável pela geração da própria energia consumida. O excedente gerado será estocado na rede pública para consumo posterior.
Jardim vertical: os jardins verticais colaboram para o conforto acústico e para qualidade do ar.
Paisagismo
O paisagismo da casa pátio tem uma importância imensa, não somente para ambientar a residência, repleta de verde por todos os lados, mas também para os moradores que gostam muito de plantas. A palavra chave desse projeto é biodiversidade. O jardim tem como premissa ser natural e generoso não somente com os moradores e visitantes, mas também com o meio.
Árvores frutíferas raras, arbustos melíferos e ores para polinizadores são somente alguns dos detalhes deste jardim que conta também com horta, telhado verde e jardim vertical, tudo isso irrigado com água proveniente de uma cisterna que coleta água da chuva.
As árvores frondosas no pátio criam um ambiente totalmente integrado com a residência. Na fachada, a proposta é um jardim naturalista, com grande diversidade de cores, ores e texturas. As espécies vegetais são, em sua grande maioria, nativas e algumas muito especiais como o cacto Euphorbia sipolisii, as frutíferas Cambucá (Plinia edulis), Fruta do sabiá (Acnistys arborescens) e plantas trepadeiras, como por exemplo a Mansoa di cilis, que irá cobrir os muros de verde, provendo frescor e beleza.
O jardim convida ao olhar atento para os detalhes e abraça os seus visitantes, dando conforto térmico e criando ambientes de convívio.
